Adeptos da doutrina espírita usam dois textos bíblicos
como base para dar fundamentação e apoio para fundamentar a doutrina espírita,
irei escrever no momento sobre um destes textos.
1- Em I Samuel 28.14, esta história conhecida e
bastante discutida na teologia, fala sobre o desespero de Saul que já sentia a
reprovação do seu reinado, e ele estava agora desesperado, Samuel já havia
morrido, e ele buscando uma resposta veio a consultar uma profetiza,
feiticeira, para buscar contato como os mortos, e ela invocando os espíritos,
mesmo ela não entendendo o que estava acontecendo ali, mais ele em sua
ansiedade, como hoje muitas pessoas envoltas a perca de seus entes queridos,
movidos muitas das vezes por uma ansiedade, buscam uma resposta, uma palavra,
uma explicação.
Samuel pergunta àquela senhora: O que ela estava vendo? Eu vejo um homem ancião envolto em uma capa!
O texto diz; entendendo Saul que era
Samuel, em sua concepção, seu grande desejo desesperado levou a pensar que
estava vendo o profeta Samuel que já havia morrido.
Entendo que o desejo de Saul era tão grande de ver e
ouvir o Profeta, que em sua visão via um pseudo Samuel, que certamente era um
demônio que estava ali se aproveitando daquele memento de franqueza espiritual,
psicológica e mental.
Aproveitando daquele momento de impaciência e anseio
por uma resposta, aquele demônio se aproxima agora, e aquela mulher vendo
aquele ser espiritual, mesmo em primeira instancia não compreendendo, mediante
a afirmação de Saul, que entendo que era Samuel se prostrou, e aquele espírito
fala através daquela mulher e ele irá tomar para sua vida.
A pergunta é existiu ali uma comunicação entre o morto
e um ser vivo?
Como disse de inicio este texto, este encontro, esta
consulta de Saul com a pitonisa de En - dor,
é um texto que tem ao longo dos anos trazido muitas polêmicas e também
divergências, é importante deixar claro que existem pontos de vista dentro do
próprio cristianismo, que defendem a possibilidade deste contato.
Eu quero lembrar quando se fala de consulta aos mortos
a luz da bíblia em relação ao espiritismo, a duas questões, primeira, a questão
da possibilidade da consulta ou do contato
em vivos e mortos? É possível?
A segunda
questão foca a legitimidade, é
aprovado por Deus?
Temos duas questões, a possibilidade e legitimidade, com relação ao espiritismo, algumas
ramificações cristãs dizem que é possível e não é uma pratica legitima, no
espiritismo diz que é possível é legítimo.
Eu defendo que nem é possível nem é legítimo!
Qual a grande dificuldade textual, é que existem duas
afirmações no capitulo 28 de Samuel, que entendidas literalmente e não
analisadas a luz do princípio hermenêutico, que as escrituras interpretam as
escrituras, nós teríamos que nos dobrar e entender a possibilidade mais não a
legitimidade.
No vers. 12; vendo
mulher, pois a Samuel, no vers. 15, Samuel disse a Saul...
Como explicar isso? Estas declarações textuais?
1- Entendendo que o capitulo 28 não é uma prescrição
doutrinária, nem capitulo doutrinário, é uma narrativa histórica, ele narra um
fato histórico, não a aqui uma prescrição nem orientação para uma pratica,
simplesmente narra de um evento histórico, como tantos outros eventos na Bíblia
encontrados, cujos fatos não dizem respeito a algo a ser seguido, podemos
observar a própria tentação e queda do homem no Éden, tentação de Jesus, a
adoração a outros deuses e etc.
Uma das questões cruciais para a interpretação do texto
é, quem esta falando? Partindo deste conceito, quem relata isso? Quem escreveu?
Na bíblia existem, palavras que vêem do próprio Deus,
de satanás e do homem.
Neste capitulo estudado, observamos que não é Deus, e nenhum
profeta falando em nome de Deus, nenhum registro, nenhuma narrativa de uma
teofania, de uma manifestação vinda da parte de Deus falando alguma coisa.
Também não é o diabo que narra este acontecimento, é
alguém ou homem falando, alguém que ouviu ou foi testemunha ocular do fato
relatado no texto.
Daí ele o escritor, lança e coloca no texto sua
perspectiva sobre o acontecimento, seu ponto de vista, na ótica dele o que
aconteceu.
Simplesmente o que a bíblia no mostra que, o registro é
inspirado, porém a declaração não.
A declaração é simplesmente um ponto de vista humano de
um fato em que a luz da hermenêutica, e de um princípio hermenêutico que diz
que, a escritura interpreta a própria escritura, não se sustenta, por que textos
difíceis na bíblia é preciso ser interpretado à luz de textos mais claros que
tratem do mesmo assunto.
Conforme Deut. 18.9-12, texto esse de ordem doutrinário,
uma prescrição divina de Deus para com o seu povo, da proibição de consultar, a
própria pratica já é abominável para Deus, e a possibilidade também não existe.
Então a quem creditar aqueles pseudos contatos, aquelas
vozes, aparições, textos e diálogos? Tão parecidos, com características faciais
e corporais com pessoas que já morreram?
Como justificar isso? Como considerar isso, como
fundamentar isso? Sendo que, como podem pessoas em uma seção ou ambiente se
manifestam como ser fosse uma pessoa que já morreu se comunicando, pessoas que
até nunca tiveram contato ou se tiveram um contato foi superficial com o morto,
podem ter tantas informações e características extremamente parecidas e até certo
modo idêntico, e também estarem supridas de inúmeras informações acerca de
acontecimentos que nem a família, e pessoas próximas ao morto partilhavam ou
sabiam.
Acredito que sejam ações de espíritos, grifo “não
espíritos humanos, e sim espíritos do mal, chamados biblicamente de demônios”,
que são seres dotados de personalidades, inteligência e vontade própria. Que
podem tranquilamente, sendo conhecedores de realidades e vivendo entre nós,
imitar e enganar a muitos passando por pessoas que já morreram.
Profecias do pseudo Samuel que não vieram a se cumprir:
E o SENHOR entregará também a Israel contigo na mão dos filisteus, e amanhã tu e teus filhos.
1 Samuel 28:15,conforme a narrativa histórica, este fato não ocorreu, Saul não morreu no dia previsto, e só três filhos morreram, portando não era Deus, que estava falando ou usou algum profeta para falar algo que Ele Deus estivesse mandado.
Seria também bom frisar, mesmo que a profecia viesse a se cumprir não iria legitimar ou possibilitar a seção espírita, ou dar autoridade e a legitimidade ao falso profeta.
Cito abaixo pontos de vistas teológicos sobre o texto
abordado:
Segundo o manual Bíblico de Halley na pag.183 “diz que Saul estava dominado pelo medo, que
tentou conseguir por meio de um médium de En-Dor, uma entrevista como Samuel.
Interpretando-se a narrativa de modo simplista, talvez pareça subtendido que o
espírito de Samuel apareceu de fato. Existem, entretanto, opiniões divergentes
quanta à aparição ter sido genuína ou fraudulenta.”
Segundo Roy B. Zuck em teologia do Antigo Testamento
editado pela CPAD na pag.140 diz: “que o
oficio profético de Samuel foi exercido mesmo depois de sua morte, quando Saul
encontrou-se com ele através de uma bruxa em Em-Dor.”
No livro de Eugene H. Merrill, Historia de Israel no
Antigo Testamento na pag.231 diz: “Aterrorizado
Saul recorreu a um médium próximo a Em-Dor, ao norte do monte Moriá. Tentou
disfarça-se, pois ele mesmo havia proibido tal pratica (I Sm 28.9), mas quando
instituiu para que a mulher chamasse Samuel dentre os mortos, ela
imediatamente, reconheceu que se tratava do rei. Apesar disso, ela
continuou na descrição da aparição que
Saul reconheceu ser o Profeta Samuel. Pacientemente Samuel explicou mais uma
vez que Saul, por causa da desobediência, perdera o direito de reinar, e que
Davi reinaria em seu lugar. Além disso, Samuel afirmou que Saul e seus filhos
morreriam naquele mesmo dia enquanto Israel em desastrosa derrota diante dos
filisteus.”
Comentário
Antonio Neves de Mesquita – Juerp – BibliaSoft : Neste comentário encontramos a defesa clara
que o ente que surgiu para Saul era
Samuel conforme transcrevemos:
“...Agora,
de fato ela viu o que se deveria chamar "um ser sobrenatural". O fato de que os mortos não voltam a esta
vida não implica na impossibilidade de Deus ter mandado Samuel. Deus enviou Samuel, não para provar a
necromancia, mas para condená-la, pois ficou evidente que a mulher jamais tinha
visto qualquer espírito....”
Comentário – A Bíblia explicada S. E. McNair – CPAD – pg. 106
Neste
comentário também o apoio à tese de que o ser que aparece para Saul é Samuel se
faz presente. Porém McNair não desenvolve uma tese para explicar o porquê desta
conclusão apenas mencionando a autoridade de alguns pais da igreja que apoiaram
a tese conforme vemos no texto transliterado:
“...Saul
procura uma pitonisa e a pitonisa invoca a Samuel – e parece assustada quando
Samuel mesmo responde à chamada (v.12). Que fosse Samuel mesmo quem “subiu” não
é somente o que a Escritura diz, mas com isso concordam “Justino Mártir,
Origines, Agostinho, e outros e a maior parte dos comentadores judaicos.” ...”
Em contraposição ao final do texto acima em que o autor
cita alguns pais da igreja apoiando a posição de que quem apareceu foi Samuel
citamos o comentário de N. Mesquita que melhor esclarece este ponto:
“...Esta
foi também a opinião de quase todos os pais, como Justino Mártir, Orígenes e
mesmo Agostinho. Tertuliano, Jerônimo,
Calvino e Lutero não aceitaram o fato como se encontra narrado, acreditando que
teria ocorrido o aparecimento de um fantasma ou mesmo o Diabo.” -
Comentário Antonio Neves de Mesquita – Juerp – BibliaSoft - parte II- da
eleição de saul ao fim de sua vida (I Sam. 10:17 a 31:13).
História dos
Hebreus – Flavio Josefo. – pg. 169 - CPAD
Josefo não lança muita luz ao texto, ainda mais que sua
posição como historiador é altamente superior ao de teólogo, mas através de seu
texto podemos ter uma visão, pelo menos superficial, do que poderia ser o
entendimento dos judeus com relação ao texto:
“...Como ela não sabia quem era Samuel,
obedeceu sem dificuldade, mas quando sua presença se fez notar, não sei o que
de divino ela notou nele, que a surpreendeu e perturbou. Voltou para Saul e
disse-lhe: “ Não sois vós o rei Saul? (Ela soube pela visão). Ele respondeu que
era, e ordenou-lhe que lhe dissesse a causa daquela grande perturbação, em que a via. Ela respondeu que via
aproximar-se um homem, que parecia todo divino. “ Que idade tem ele?”, disse
Saul, “e como está vestido?” “Ele parece” , respondeu ela “um velho mui
venerável e está revestido de um hábito sacerdotal.” Então Saul de que era
mesmo Samuel. ...”
Enciclopédia de Bíblia, Teologia e Filosofia – R. N.
Champlin – Ed. Hagnos 5ª edição-2001. Volume 6 pg.113.
Champlin apresenta-nos as duas (era Samuel, ou era um
demônio) versões e acrescenta mais duas (uma ilusão psicológica da médium), e
outra nos meandros da alta crítica (a história seria apenas folclore, lenda.)
não colocando uma opinião muito mais incisiva em nenhuma delas. “...Quanto a discussão se o espírito de Samuel foi ou não invocado e
compareceu, temos estas respostas:
1.
Os críticos dizem que toda a história era apenas folclore popular, e nunca aconteceu.
2. Fundamentalistas
rígidos acreditam que a médium teve uma
experiência psicológica mas não espiritual. Isto é, ela achava que Samuel havia
ascendido do Hades para falar com ela, mas isso foi apenas uma alucinação
privada. Ou segundo alguns um espírito demoníaco imitou Samuel.
3.
É melhor, contudo, reconhecer que a história simplesmente afirma que Samuel se
comunicou. Chegamos a essa conclusão se não insistirmos em alguma proposta
teológica de que isso não poderia acontecer....”
Sei que estou sendo redundante, mais volta a falar
sobre o princípio da interpretação, usando então a máxima da exegese que a
Bíblia interpreta a própria Bíblia, ficamos baseados nas afirmações textuais
sobre a consulta aos mortos e conforme II Cor 11:14 “ E não é de admirar, porquanto o próprio
satanás se disfarça em [anjo de luz].”
Há uma série de impedimentos bíblicos que
possibilitasse e autentique a aparição de Samuel, pois vejamos:
Lv 19.31:Não vos voltareis para os que consultam os
mortos nem para os feiticeiros; não os busqueis para não ficardes contaminados
por eles. Eu sou o Senhor vosso Deus.
Lv 20:6:Quanto
àquele que se voltar para os que consultam os mortos e para os feiticeiros,
prostituindo-se após eles, porei o meu rosto contra aquele homem, e o
extirparei do meio do seu povo.
Lv 20:27:O
homem ou mulher que consultar os mortos ou for feiticeiro, certamente será
morto. Serão apedrejados, e o seu sangue será sobre eles.
Dt 18:11: nem
encantador, nem quem consulte um espírito adivinhador, nem mágico, nem quem
consulte os mortos;
Jó 7:9-10: Assim como a nuvem se desfaz e passa, assim
aquele que desce à sepultura nunca tornará a subir. Nunca mais tornará à sua
casa, nem o seu lugar jamais o conhecerá.
Jó 34:15: Toda a carne juntamente expiraria, e o homem
voltaria para o pó.
Hebreus 9:27: E, como aos homens está ordenado morrerem
uma vez, vindo depois disso o juízo.
Lucas 16:26: E, além disso, está posto um grande abismo
entre nós e vós, de sorte que os que quisessem passar daqui para vós não
poderiam, nem tampouco os de lá passar para cá.
Partindo desta premissa e entendendo que Deus não se
contradiz, “nem é homem ou filho do homem para que minta”, sendo o mesmo ontem,
hoje e sempre, tomamos os versículos bíblicos citados acima em que Deus proíbe
a consulta a mortos, e se Deus proíbe a consulta a mortos e, no caso de Saul,
Deus permitisse que Samuel se fizesse presente haveria uma notável contradição
entre o que Deus ordenou e a situação relatada na Bíblia.
Assim o que nos parece é que o ente que surgiu para
Saul não foi Samuel e sim um demônio, pois essa é uma atitude comum de satanás
para confundir e atemorizar as pessoas.
Portanto, não existe nenhum apoio bíblico e teológico
que de base, ou que venha a dar a possibilidade e autenticidade da comunicação
com os mortos.
Paz em
Cristo.
Por Jailson
Trajano.
Paulista,
Agosto de 2012.
REFERÊNCIAS E BIBLIOGRAFICAS:
R. N. Champlin ,Enciclpédia de Bíblia, Teologia e Filosofia
–– Ed. Hagnos 5ª edição-2001
DICIONÁRIO do
Pensamento Contemporâneo. São Paulo, Paulus, 2000.
WEGNER, Uwe e Hoefelmann, Verner, Manual de exegese. São
Leopoldo, 1997 .
ELLISEM, Stanley
A. Conheça melhor o antigo testamento 10ª Edição AD. SP: Editora Vida. 2003.
ZUCK,
Roy b., Teologia do Antigo Testamento, RJ – CPAD , 2009.
MERRILL, Eugene H, História de Israel no Ant. Testamento,
RJ- CPAD, 2011.
LOPES, Augustus Nicodemus. Hermenêutica.
Apostila, 1998, 69 p.
PENTECOSTAL Bíblia. Rio de Janeiro: CPAD 1995.
COELHO Alexandre, DANIEL Silas. Vencendo as
aflições da via. Rio de Janeiro, CPAD 2012.
HALLEY,
Manual Bíblico de – Nova Versão Internacional. SP – Editora Vida,2011.
CHAVE
Palavras, Bíblia de Estudo Hebraico e Grego. RJ – CPAD, 2011.
MESQUITA,
Antonio Neves de. Comentário– Juerp – BibliaSoft - Parte Ii - Da Eleição De
Saul Ao Fim De Sua Vida.
MCNAIR S. E, Comentário – A Bíblia explicada– CPAD. 2009.
JOSEFO, Flavio.
História dos Hebreus – CPAD. 2009.